Desculpe, não tem Super-glue 3, para colarmos o nosso filtro a gasóleo ?

Março 2007, Goma, Kivu, República Democrática do Congo :

Partimos cedo em direcção a Kisoro, à fronteira com o Uganda. Esperámos que o "matatoo" enchesse, e hora e meia depois, estávamos departida. No leste africano, o "matatoo", pequeno autocarro que pode conter entre 18 a 24 passageiros ou mais, é "o" meio de transporte mais usado. Quando se viaja de matatoo, convém chegar sedo de modo a ocuparos lugares dianteiros, mais confortáveis e capazes de absorver os choques da estrada em más condições.
O condutor do autocarro chama-se Olivier. Com ele, viaja o irmão mais novo, Thierry, que quer também mais tarde trabalhar como condutor. À saída de Goma, a vista do vulcão Nyiragongo é magnifica. Em swahili, Goma, significa musica e também tambor. Talvez se trate da musica, do dum dum do Nyiragongo… Pelo caminho encontramos patrulhas mistas entre rebeldes (faixa vermelha) e soldados governamentais Congoleses (faixa verde); mamas a transportarem jarras; crianças em bicicletas artesanais feitas de madeira e pneu recuperado... As barragens policiais (3 no todo) sucedem-se. Os policias, de estrela azul no capacete, reagem de sorriso estampado nas caras aos nossos sucessivos:"Bonjour mon Colonel", "à bientôt mon General".... A pesar de estarmostodos os 3 de bagagem sobre os joelhos, não paramos de fazer fotos aos passantes, de observar, e quando a ocasião se apresenta, de rir às gargalhadas. A 10 km da fronteira, o matatoo avaria. Olivier, condutor avisado, abre o motor e extrai o filtro a gasóleo, para limpalo. Para abrir o filtro necessita de ajuda, e chega o irmão mais novo com chaves de fenda, para fazer alavanca. Para as chaves entrarem hà que martelar um pouco nelas, só que Thierry, que ainda não controla bem a sua forca, com a ajuda de uma pedra, da um golpe demasiado forte. Imediatamente, constatamos que o filtro esta partido. Olivier olha com ar ameaçador seu irmão mais novo e obriga-o a ir comprar cola Super-glue 3 para quese possa colar o filtro. Entretanto, tentamos arranjar a dita peca comcola UHU, mas sem sucesso. Com o calor todos saem do autocarro. Algumas mamas, pouco confiantes nas capacidades do Olivier decidem continuar ate à fronteira de taxi mota. O Bruno, que ia sentado atrás, lentamente tenta esticar os membros doloridos pelas múltiplas contusões sofridas por causa do estado da pista. O André, entusiasmado com esta paragem no meio do nada, começa a fotografar as crianças em redor.
Neste clima de descontracção, a espera torna-se agradável, e 45minutos passam num instante, ate que volte o thierry. Um dos passageiros, especializado em canalizações, propõe-se para colar o filtro. Pouco importa quem é o executante, todos confiam no poder magico da Super-glue3! Ao girar a chave de contacto, o motor romba logo à primeira e os nachukuro mungu (agradeço a Deus) acompanham o ritmo desafinado do toyota 2.400 cc . Arrancamos para a fronteira e temos direito a um pedaço de cana de açúcar, talvez por termos contribuído com ondas positivas à resolução do problema. A chegada está uma das mamas com quem viajàmos e que, desconfiada, resolveu continuar de taxi mota. Sem pestanejar viro-me para ela e pergunto:"Com'é mama? Não confias nos super-poderes da Superglue 3?"



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